quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A diferença - o lado acadêmico

Essa postagem é uma resposta ao comentário do TT sobre a postagem anterior. Fez-se o mundo acadêmico, mesmo. A ideia de dizer tudo de forma obscura para se preservar de alguma forma é a academia escrita. Tá assim de gente que publica coisas em artigos e livros deixando da forma mais obscura possível como coisas essenciais foram obtidas. Sem contar com as coisas publicadas que não tem nada obtido, são só xalalá. Com egos inflados em toda a parte, blefes de "é fácil ver que" encontram no meio acadêmico seu terreno mais fértil. Segue um exemplo de meu conhecimento do obscurantismo científico.

Ocorreu nos anos 60, em física matemática. A solução analítica de equações diferenciais parciais, presentes em modelos de tudo o que é tipo de coisa, é normalmente obtida a partir da sua expansão em uma série infinita de funções especiais, para a posterior obtenção dos coeficientes da série através das condições iniciais e de contorno.*

A questão é a seguinte: séries infinitas podem convergir para um valor finito ou não e, se elas divergem, então o modelo físico feito não serve para nada pelo fato óbvio que a previsão dele para qualquer quantidade mensurável seria menos ou mais infinito. Dessa forma, trabalhar com equações diferenciais parciais requer algo além de meramente obter uma expressão para a solução do problema em questão. Envolve provar que a solução converge. Detalhe: a menos que se tratem daquelas séries quase triviais de Cálculo II, provar convergência de séries é uma tarefa dolorosamente ingrata.

E quão dolorosamente ingrata? Bom, o suficiente para que vários cientistas dos anos 60 julgassem ser uma boa política publicar os artigos sem saber se as séries convergiam, torcendo pelo melhor. Claro que o melhor aconteceu: algum matemático com a paciência divina foi lá e estudou a convergência daquelas séries. É. Elas divergem e a porcaria toda de artigos e artigos está errada. Mas eles certamente serviram para as carreiras dos caras que publicaram, visto que por publicações se mede o valor de um cientista.

O meu ponto é que o meio acadêmico possui incentivos financeiros e psicológicos para que as pessoas sejam obscuras. Usei um exemplo de artigos, porque sei que exemplos de sala de aula são algo completamente banalizado. E, o mais importante de tudo, disparado: só falei das exatas, numa sub-áreas na qual há métodos numéricos e analíticos para testar as coisas. Isso significa que os caras que publicaram sem saber sabiam que estavam se expondo ao ridículo. Agora vai me dizer que em cosmologia, teoria de cordas e ciências humanas não tem de ser bem pior...

*Para saber mais sobre esse parágrafo, convide o autor para um café (ou curse Equações Diferenciais no semestre que vem, Matemática Aplicada no seguinte, Física Matemática I depois e, finalmente, Física Matemática III).

Um comentário:

Matheus "TT" Freire disse...

Aceito um café \o/

Quanto ao post: Não imaginava que um comentário de 1 linha fosse render 2 posts-explicação :P

Mas imagino que seja bem assim mesmo. Afinal, pra que usar uma fórmula de 50 linhas se tu pode simplesmente considerar que a Terra é uma esfera perfeita? \m/