terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Brasil-sil-sil

Juntei-me, ontem, ao seleto (?) grupo de criaturas que já foram assaltadas em PoA. Na volta de um basquete com 13 presentes.

A cena:

Desci do D43 no Clínicas. Caminhando pela Oswaldo, em direção à Ramiro, vejo um negro mal-vestido e pouco sóbrio abordando um magrão branco sem camisa. Eles trocam algumas palavras, e cada um segue o seu caminho. O negro vem em minha direção. Eu começo a desviar para o lado da rua. Ele vem em minha direção e estica o braço, como se fosse me cumprimentar. Eu vou um pouco mais para o lado e ele ainda se aproxima. Ele me xinga, me acerta um tapa no peito e segue adiante. Sigo caminhando, olho para trás e ele segue no sentido oposto, já longe. Dobro na Ramiro. Após alguns metros na Ramiro, o magrão sem camisa, que estava um tanto a frente, começa a atravessar a rua, me vê e corre em minha direção, levantando um cano. Ele segurava o cano com um pano vermelho enrolando a sua mão, o que deixava nitidamente indicado que o cano não era uma arma, especialmente pelo tipo do cano e pelo fato de que o cabo de qualquer arma que eu já tenha visto é maior do que a extensão do tal pano vermelho.

Mesmo assim, segui dando o benefício da dúvida para aquilo ser uma arma, embora ele a estivesse mostrando muito modestamente para uma rua deserta às 22 horas. O cara me mandou voltar um pouco, pois logo a frente há um estacionamento que sempre tem seguranças. Sentou-se na entrada de uma loja, onde ficava meio escondido, caso um segurança do estacionamento viesse olhar algo e me mandou sentar ao lado. Pediu o dinheiro e ficava constantemente me mandando abaixar as mãos. Peguei a carteira, entreguei o dinheiro para o cara, que estava nitidamente nervoso. Ele largou a 'arma' no chão. A 'arma' estava mais ao alcance da minha mão direita do que da mão esquerda dele. Ele era menor que eu. Eu estava numa posição da qual poderia desferir um chute na cabeça dele contra a parede com a minha perna esquerda. Ele estava me roubando uns R$80 e pedindo o celular. Eu ainda estava com a adrenalina do basquete a toda no sangue.

Pensei se ele teria alguma chance numa briga caso eu tirasse a arma dele e começasse com um chute na cabeça dele contra a parede. Concluí que ele não tinha. Concluí que eu conseguiria fazer isso tranquilamente. Mas e depois? Eu era um magrão suado, carregando uma sacola dentro da qual obviamente estava uma bola caminhando por ali às 21:40. Qualquer arigó raciocina o suficiente pra saber que vai me encontrar nessa região mais vezes, se quiser. Portanto, qual a chance de eu ganhar a briga, salvar os R$80 e ele querer vingança? Grande o suficiente pra eu viver com medo disso depois, tenho certeza.

Pensei então "vai que ele não esteja sozinho" e não reagi. Menti e disse que não tinha celular ali, que só tinha ido jogar. Ele perguntou se tinha alguém por perto. Eu olhei e disse que não. Ele pediu de novo pelo celular, eu repeti a resposta. Ele perguntou o que tinha na pasta. Eu disse que não tinha nada na pasta. Ele pegou a 'arma' do chão, mandou eu levantar e levantou. Eu guardei a carteira e levantei. Ele mandou eu voltar para a Oswaldo e dobrar à esquerda e subiu a Ramiro. Eu peguei um ônibus do Clínicas ao HPS, de onde peguei um táxi até em casa, pois não queria encontrar o sujeito de novo.

Um comentário:

Whiskas disse...

Eu evitava sair no Brasil com qualquer quantia acima de vinte reais na carteira, exceto se estivesse de carro e indo para algum lugar específico onde quantia maior fosse necessária. E por outro lado, depois de poucas semanas na Alemanha, já me é natural que as pessoas andem com duzentos euros ou mais nas suas carteiras.

As vagas de doutorado aqui permanecem abertas :)