terça-feira, 21 de outubro de 2008

Passagens, debates, metrôs e beijos

É o segundo turno das eleições de PoA mexendo com a minha circulação sanguínea. Seis anos de D43 lotado com as passagens subindo anualmente (sempre seguindo o ritual) edificaram o meu cinismo quanto à qualquer administração municipal.

O ritual ocorre entre o final de janeiro e o Carnaval de cada ano, quando os únicos estudantes presentes na capital são bolsistas de iniciação científica, e consiste do seguinte. Em um belo dia de verão é publicada uma notícia na ZH e no Correio comentando sobre como as coitadinhas das empresas de ônibus estão em apuros, como o número de passageiros por quilômetro rodado continua caindo a cada ano e como seria necessário um aumento de 25% na tarifa e o fim dos benefícios para estudantes e idosos para que elas pudessem sobreviver. Algum executivo da ATP diz que "os passageiros comuns têm de pagar pelos benefícios de estudantes e idosos". Alguma estatística "mostrando" como os ônibus viajam vazios é citada, sem que se mencione e onde a tal estatística saiu, claro.

Na semana seguinte, está na prefeitura o pedido de aumento da tarifa em 20%. Os estudantes que aqui se encontram fazem uma mobilização pífia* como protesto. No dia seguinte, estão nos jornais as mobilizações e mais executivos defendendo a inviabilidade de operação sem o reajuste pedido. Finalmente, na semana seguinte, a prefeitura vai lá e aprova um aumento da ordem de 10 a 15%. 2008 foi o quinto ano seguido no qual vi essa cena e os ônibus de hoje estão tão lotados quanto os de 2003.

No debate de ontem, na Rádio Guaíba, a candidata do partido que governou PoA por 16 anos e o atual prefeito mostraram, com o melhor do bom humor, que se a situação do transporte público está como está, só pode ser por acaso. Do Correio do Povo de hoje:


"... Fogaça acusou a petista de ter se apropriado do projeto do metrô desde o início da campanha. Ele perguntou a Rosário se não houve participação dos demais parlamentares na inclusão de recursos para o metrô no Plano Plurianual. 'Sim, de toda a bancada gaúcha, menos do senhor', retrucou a deputada. Fogaça disse então que Rosário se declarava a rainha do metrô. A petista pediu respeito e disse que, se ela era a 'rainha do metrô', Fogaça seria o 'rei da demora'."
"... Ao final do encontro, o mediador Gustavo Mota pediu aos dois que trocassem um aperto de mãos. Descontraído, Fogaça reclamou de ter sido chamado de 'rei da demora' por Rosário. Ela disse que apenas havia revidado o tratamento de 'rainha do metrô'.
Rosário brincou: 'Se tu construires o metrô, eu pego o cetro de rainha'. Fogaça entrou no clima de brincadeira e respondeu: 'Se tu conseguires o dinheiro, te dou um beijo na boca'. Ao que ela retrucou: 'Na boca, não!'."

Nessas horas eu gostaria de ter título aqui, para poder votar no dois.

*Houve uma manifestação pífia particularmente digna de nota: em tempos nos quais o DCE da UFRGS tinha sido disputado entre uma chapa do PSTU e outra do PSol, os estudantes do partido perdedor quiseram organizar protesto pífio próprio contra o reajuste . Por acaso, foi no mesmo dia que o protesto do DCE. Cada manifestação chegou em frente à prefeitura vinda de um lado. Se encontraram, brigaram entre si, a polícia teve de intervir para separar os manifestantes, todos foram embora e, as passagens, reajustadas.

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